O relógio se aproximava do meio-dia. Era uma tarde de março de 1989. Soldado Ribeiro participava de uma blitz no posto da Polícia Rodoviária Federal da rodovia Presidente Dutra, no trecho de Roseira, no Vale do Paraíba, a 150km de São Paulo. A fiscalização era para conferir selos colados no para-brisa, o que na época era obrigatório para comprovar que o veículo estava regular com as taxas, como os atuais IPVA e licenciamento.
Entre os tantos carros que seguiam na principal ligação entre São Paulo e Rio de Janeiro naquele momento, um não obedeceu à ordem de parada. Soldado Ribeiro, então, partiu sozinho em sua viatura atrás do motorista fugitivo. Foram quatro quilômetros de perseguição, até que o veículo em fuga parou num posto de combustíveis também na Dutra.
O protocolo é conhecido. Ao pedir o documento, o nome que poderia tirar qualquer dúvida sobre a semelhança e o porte físico de quem segurava o volante: José Adilson Rodrigues dos Santos. O apelido Maguila era um mero detalhe. Naquele ano, o pugilista vivia o auge da carreira. Estava no Top 3 do ranking do Conselho Mundial de Boxe. Era um dos cotados para lutar contra o invicto Mike Tyson. Foi impossível não o reconhecer e, naquele momento, inevitável não sentir o mesmo que os adversários de ringue de Maguila.

– Tive receio, porque com ele tinham dois ou três camaradas com o mesmo porte – disse o policial, identificado apenas como Soldado Ribeiro, em reportagem exibida pela Rede Vanguarda em 22 de março de 1989.
Apesar de estar sozinho, diante de um Maguila acompanhado, Soldado Ribeiro fez o que o dever mandava: pediu para que o pugilista voltasse ao posto da PRF. Maguila não quis. Ribeiro insistiu. Maguila continuou se negando. Pela confusão, foram todos para a delegacia da cidade vizinha Aparecida.
Ao delegado Vicente Lagiotto, o pugilista disse que não parou no posto de Roseira porque já havia parado em outras duas blitze anteriores e negou qualquer intenção de agredir o policial.
– Ele achou que porque eu sou o Maguila, lutador, iria agredir ele. Jamais vou agredir um policial ou ninguém na rua. Eu estou até com os dois olhos roxos. Vou brigar de que jeito? Minha luta é no ringue – disse Maguila na época.

Os olhos roxos mencionados pelo pugilista eram fruto dos treinamentos. Quatro meses depois do episódio da delegacia, Maguila faria a luta mais famosa da carreira, contra Evander Holyfield, na qual foi nocauteado no segundo assalto.
Do “embate” com Soldado Ribeiro, Maguila terminou com um boletim de ocorrência registrado e duas multas.
Fonte: ge.globo.com